Tem pais ou esposo (a) com mais de 60 anos que ainda não está tomando cuidado com o coronavírus?
Muitas vezes nos assusta e, por estarmos também sob restrições, perdemos a paciência. Trabalho com motivação e sei que não se consegue nada discutindo. Aí vai uma estratégia que pode funcionar.
1) Para começar, não fique com raiva, indignação, com vontade de ganhar a discussão ou mostrar que tu está 100% certo;
2) Chame essa pessoa para uma conversa, um verdadeiro diálogo, e faça isso surpreendendo-a. Como? “Pai, eu gosto muito de ti, me diz com tuas palavras o que o senhor sabe sobre isso do coronavírus.”;
3) Escute sem interromper. O máximo é fazer mais perguntas abertas tais como as formas de contágio, as consequências para saúde, etc;
4) Busque saber por onde esse idoso tem se informado e quais são as celebridades ou pessoas de referência que ele costuma dar credibilidade (médico, ator, cantor, líder religioso, amigo);
5) Se o idoso vier com argumentos muito estapafúrdios (aqueles do zapzap), ofereça alguma fonte de informação que faça contato com a realidade do idoso (os exemplos acima), o emprego de exemplos de outros idosos da comunidade que estão se cuidando também é válido. Meu avô de 92 anos comparou a doença com o sarampo – doença que ele lembrou exigir cuidados – para ele isso o ajudou a compreender melhor e aceitar;
6) Coloque o idoso na responsabilidade de, ao cuidar de si, estar cuidando também das outras pessoas da família, ou até mesmo que ele pode ser o exemplo para outros idosos do bairro e pessoas da família, afinal, dele se espera a sabedoria de sempre;
7) Coloque que tu estará à disposição para passar informações de fontes seguras e fazer as adaptações necessárias na rotina para que tudo fique bem – também não adianta convencer, motivar e não dar assistência; leve as máscaras e álcool gel e mostra afeto;
8) Dê alguma esperança nesse sacrifício. Uso muito os conceitos da logoterapia na clínica aqui e o Dr. Frankl ensinou que devemos ajudar as pessoas sob cuidado a enxergar um propósito, um sentido na vida em cada momento. Ao cuidar de si e cuidar dos familiares, esse idoso poderá encontrar significado;
9) Caso a Relação pai-filho, esposo-esposa seja difícil, tente uma outra pessoa para fazer essa conversa ou até escreva uma carta nesses termos aqui;
10) Em pacientes com depressão ou problemas como demência, converse com o médico – ele poderá dar boas orientações;
11) E assustar: funciona? Num número pequeno de casos. Não adianta falar de dados muito estatísticos, ou exemplos distantes. Se o idoso anda triste e depressivo, falar que ele vai morrer às vezes só reforça seu quadro e não se sai do lugar. Assustar com custos de uma doença pode funcionar para aqueles muito apegados ao dinheiro, mas não acho uma boa opção;
12) Tente essa estratégia mais de uma vez e frequentemente a reforce. Não deixe virar briga, recue quando houver ataques, etc. O MAS dito pelo idoso é sempre um sinal que está ambivalente e que não mudará seu hábito. A desinformação pelas redes sociais é constante, brutal, e em vídeos muito manipulativos, por isso, tente mais vezes, tente por etapas.
Espero ter te ajudado!
Um abraço, Leandro Minozzo, geriatra,
professor de medicina da Universidade FEEVALE